O fator decisivo entre a sobrevivência e a morte pode partir do quão forte sua mente está para determinada situação. Ainda, pequenas situações do cotidiano podem resultar no alcance ou não de seus objetivos, a medida da sua persistência. Portanto, a problemática a ser tratada aqui refere-se a saúde mental em situações desafiadoras. Adianta-se que este resumido artigo possui informações mais aprofundadas, o que pode ocasionar na incompreensão ou na desistência de sua conclusão por parte do leitor. Entretanto, as pequenas lições aqui elencadas servirão para aprimorar sua mente, ao ponto de vencer os desafios diários e até, superar eventuais dificuldades que arrisquem sua integridade física.
Mentalmente vivo é estar, mesmo que em péssimas condições físicas, em um estado de luta pela superação da dificuldade. Por vezes, em situações de sobrevivência, não é o corpo quem morre primeiro, mas sim a mente do indivíduo, que entra em um estado de entrega e desistência da vida. Isso será tratado mais à frente.
Pouco importa se você possui um bom preparo físico, se entende das mais variadas técnicas de sobrevivência ou se julga capaz de superar qualquer dificuldade. O despreparo mental anula todo o preparo físico. Parece lógico que a mente deve estar preparada. Mas a questão é: como preparar e, ainda, como saber que se está preparado.
Sobrevivência
A frase clássica de que “a esperança é a última que morre” tem origem na mitologia grega, quando Pandora abre sua caixa, fugindo de lá todos os males do mundo, mas, ao fechar rapidamente a tampa, a esperança ficou presa lá dentro. Há diferentes interpretações sobre se a esperança é boa ou má ao ser humano. A conexão desta história ao texto remete a ideia de persistir até o fim ante uma dificuldade. Imaginemos que um piloto cai com seu avião na selva amazônica e, milagrosamente, sobrevive ileso a queda. Mesmo tendo sobrevivido ele terá de enfrentar grandes desafios até ser resgatado ou conseguir achar a civilização. Na floresta amazônica, como se sabe, há insetos e répteis peçonhentos, grandes felinos, plantas venenosas, escassez de alimentos e, inclusive, índios canibais. Fazendo uma rápida reflexão, não houve grande vantagem em sobreviver a queda, haja vista ter que enfrentar tamanha dificuldade para de fato sobreviver.
Vamos supor que este piloto detém grande conhecimento em navegação e possui consigo itens básicos para sobrevivência, como uma bússola, pederneira, faca, água e pequena quantidade de alimentos. Há grandes chances dele sobreviver! Mas, imaginando que ele, após o primeiro dia de caminhada, esteja cansado, tendo sofrido com os insetos e não conseguido dormir durante a noite, comece a entrar em pânico. Entrar em pânico e sentir medo são males que acometem todos os homens, diferindo entre cada um a forma em lidar com os efeitos destes problemas.
Em determinado ponto, o sobrevivente começa a pensar que não irá conseguir achar um vilarejo ou o resgate e começa a imaginar o sofrimento em não ter recursos na mata tão mortífera como é a floresta amazônica. Os estímulos mentais do sofrimento ocasiona em pensamentos de desistência em sobreviver, ante o sofrimento que está ocorrendo ou poderá ocorrer. O piloto, então, resolve ficar sentado sem se locomover, mesmo tendo pleno conhecimento em navegação e possuindo uma bússola. Ao invés de buscar o socorro, resolve ficar estático, pois o sofrimento em enfrentar a selva se sobreporia na vontade de sobreviver.
Este estado mental de desistência é chamado de morte psicogênica, ou ainda, morte psíquica, conforme tratam autores clássicos da psicologia. Ocorre quando a mente desiste de buscar a sobrevivência, pois o sofrimento em manter-se vivo é entendido como demasiadamente penoso, ao ponto da morte ser mais reconfortante. Sim, a mente “morre” antes do corpo, mesmo este estando em plena condição. Creio que até este ponto do artigo conseguimos aprofundar o sentido da problemática acima: a saúde mental em situações desafiadoras.
Fortalecimento da mente
Então, como treinamos a mente? Basta uma mera meditação ou prometer-se a si mesmo de nunca desistir? Não há comprovação que isto funcione, mas há um jargão que pode dar um norte na resposta: treinamento difícil, combate fácil. Treinar a mente é muito mais difícil do que podemos imaginar. Por vezes, o inconsciente se sobrepõe ao consciente, nos fazendo agir em contrariedade a tudo que havíamos pensado em fazer anteriormente. Em outras palavras, mesmo que você planeje que nunca irá desistir em uma situação de sobrevivência, a mais tosca dificuldade pode mudar seu agir, contrariando seu consciente.
De certo modo, parece complexo e impossível que uma força psíquica não controlável (inconsciente), possa controlar seus atos e contrariar sua vontade, ao ponto de desconsiderar o extinto de sobrevivência e nos levar a morte. Isso é mais corriqueiro do que você imagina, pois situações traumáticas causam confusão em nossa mente, mudando o modo no qual agimos. Assim, mesmo que você saiba todos os procedimentos de orientação e navegação, diante do perigo e da dificuldade é mais fácil de negligenciar e errar, por exemplo, no simples manuseio da bússola. O bloqueio executivo ocorre quando nos deparamos com algo inesperado e não conseguimos por em prática o que sabemos para lidar com o problema. Imagine que você saiba manusear perfeitamente uma arma no stand de tiro, detém pleno conhecimento de como alimentar a arma, engatilhar, destravar e atirar, mas, ao se deparar com um assalto, seus braços não conseguem mover-se, ou ainda, você esquece de como atirar.
Tanto a morte psíquica, quanto o bloqueio executivo podem ser evitados mediante treinamentos para a mente. Para fortalecer sua mente para não desistir de sobreviver em situações de perigo, busque se expor controladamente ao desconforto. A técnica consiste em sair da zona de conforto, experimentando situações leves a moderadas que possam lhe fortalecer mentalmente. Lembre-se quando foi a última vez que tomou um banho gelado em uma lagoa, rio, mar e et cetera? Quando foi a última vez que acampou sem usar uma barraca? Ou ainda, quando que tomou um banho gelado na sua casa?
Se a sua resposta for “nunca” ou “faz bastante tempo”, provavelmente sua mente não está preparada para superar dificuldades. Você pode até pensar que poderá superar, já uma vez na sua vida passou algum trabalho, mas a mente é igual ao corpo, necessita de treinamentos constantes. A filosofia do OSOK é treinar seus membros tanto fisicamente, quando mentalmente através de atividades, nas quais, buscamos superar dificuldades através do acampamentos de sobrevivência, aprimoramento de técnicas individuais e coletivas para evitar e superar situações de perigo.
Portanto, ao passo que são realizados diversos acampamentos de sobrevivência, onde se enfrenta o frio, o calor, a água é racionada, os alimentos são coletados no local e há limitação de equipamentos, as chances de superar uma situação real é maior. O comportamento diurno e noturno, melhor local para abrigo, construção de abrigo, fogueira, coleta de materiais, dentre outras atividades, são realizadas ao ponto do indivíduo aprimorar sua experiência e conhecer as possíveis variáveis. A pura técnica e pouca prática não é suficiente para demonstrar a verdadeira dinâmica da sobrevivência.
Voltemos ao exemplo do piloto perdido na selva. Supondo que ele tivesse participado acampamentos de sobrevivência, construído pequenos abrigos e realizado coletas de alimentos na natureza. Ao ter entrado no estado de pânico, conforme acima mencionado, ele decide construir um abrigo para se recuperar e acalmar-se. De logo, acende uma fogueira, conseguindo se alimentar e dormir em temperatura agradável. No outro dia pela manhã, seu estado mental está melhor, retomando a marcha até seu resgate.
Esta é uma das variáveis. Aprender orientação, mas não saber o que fazer quando não estiver encontrando o caminho certo pode levar ao perigo maior, o pânico, seguido de uma morte psíquica que, na maioria dos casos, leva a morte do indivíduo. O plano “B” é fruto da experiência. Para se ter experiência, o sobrevivente deve ter simulado anteriormente situações de perigo na prática. Isso ajudará sua mente a saber o que fazer quando o plano “A”, derivado da pura técnica, vier a falhar.
Esteja mentalmente preparado! A mente é o fator decisivo para a manutenção da sobrevivência. Como mencionado, o OSOK tem a sobrevivência como uma filosofia. Isso permite o crescimento e fortalecimento do membro OSOK.
Este pequeno artigo resume o conhecimento já alcançado pelo time, que abrange cursos avançados de sobrevivência, a experiência da vida militar, estudos técnicos sobre a mente, dentre outras fontes. Se você, caro leitor, se identificar com as palavras aqui redigidas, busque para si este modo de vida. Os ganhos são muitos. Se desejar, nos contate que iremos passar detalhes e você será bem-vindo para participar de nossas atividades.
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