Armas de Sobrevivência: Arco e Flecha

Saudações caros leitores do blog do OSOK!

Vamos começar uma nova série de artigos aqui no blog do OSOK, com temas sobre sobrevivencialismo, suas matérias e disciplinas.  Se tiver qualquer assunto que vocês queiram ler sobre, deixe aqui nos comentários. Responderei cada um deles assim que possível.

A primeira série de muitas se chama “Armas de Sobrevivência”. Nesta série falaremos sobre diversos tipos de armas, seus usos, características, vantagens e desvantagens, peculiaridades, melhores cenários de usos, entre outros. Existem muitos aspectos de linguagem técnica sobre o assunto, mas tentarei usar uma linguagem mais simples e objetiva possível.

O Arco

O Arco e Flecha é uma arma consagrada. Está presente em diversos contos, histórias épicas, tanto medievais como futuristas. Todo o estudante de sobrevivencialismo já se imaginou pelo menos uma vez na vida usando esta ferramenta. Sua simples estrutura facilita sua construção comparado a outras armas mais complexas. O arco é basicamente uma mola confeccionada em madeira ou outro material sintético que é puxada através de uma corda, armazena energia e quando é solta, a energia é liberada, impulsionando o projétil (a flecha).

Porém o que poucos sabem é que o arco, assim como outras armas de sua categoria, possui diversos fatores que determinam a potência, dano, alcance e precisão dos disparos. Conhecendo esses fatores, irá facilitar (em muito) na escolha do modelo de arco que o sobrevivente irá escolher para o seu arsenal de sobrevivência. 

Os arcos são divididos em três categorias principais. São elas:

Arco Longo

Este é o arco tradicional. Este arco pode medir o tamanho de seis pés, cerca de 1,80 metros de comprimento, a estrutura dele é simples e robusta. É fabricado tradicionalmente em madeira. Ainda nos dias de hoje é possível encontrar muitos simpatizantes desta categoria.

Por ter a estrutura simples, esta categoria de todas é a que mais exige habilidade do arqueiro, pois não possui as melhorias que as outras categorias possuem, salvo algumas exceções.

Arco Recurvo

Esta é uma categoria melhorada em relação ao arco longo. A principal diferença deste arco para o longo, é que suas extremidades possuem uma forma de “S”. Essa forma possui duas funções. A primeira, é aumentar a força do arco e a segunda, diminuir a vibração da corda no momento do disparo. Cordas que vibram muito oferecem uma perda de potência e precisão. Cordas que vibram menos oferecem maior precisão e melhor distribuição de potência para a flecha.

Arco Composto

Esta categoria é diferenciada. Possui uma grande dose de tecnologia em sua fabricação, o famoso “arco de roldanas”, que ficam em suas extremidades. Elas possuem a função de diminuir a força da puxada em até dois terços para o arqueiro, dando a impressão que é mais leve, porém ele mantém toda a sua potência. Comparando com as duas categorias anteriores, este arco possui uma mecânica invertida. Nos arcos longo e recurvo, o início da puxada é suave e o final dela é pesado. O final da puxada, quando a corda do arco se encontra perto do queixo do arqueiro. Já no arco composto, essa mecânica é exatamente ao contrário: O início da puxada é pesado e o final da puxada é leve. Isso dá uma alteração brutal na balística da flecha, fazendo o impacto e perfuração da flecha superior aos outros. Quando digo “Balística”, me refiro aos elementos que estão envolvidos no disparo da flecha, interferindo em seu dano, alcance, perfuração e precisão.

Lembram quando eu disse no início deste artigo que o arco tinha seus fatores? Vamos falar sobre eles agora.

Quando o assunto é arcos e armas desta categoria, Devemos sempre considerar:

• A Libragem do Arco;
• O Peso da flecha;
• A Ponta da flecha;
• O “Power Stroke”;
• O Paradoxo do Arqueiro (Não se aplica a Bestas)

Vamos falar sobre cada um deles.

A Libragem do Arco

O arco sempre é medido em “Libras de força”, não em quilos. Todos os pesos e medidas são feitos no padrão Britânico, porque foi o primeiro país que instituiu a prática esportiva do arco e flecha. Os quilos de força são medidos em libras e as medidas são em polegadas. Para facilitar a leitura deste artigo, estarei sempre fornecendo o equivalente em metros e quilos. Imagine-se puxando esta força com apenas três dedos.

Os primeiros arcos que passam pela mão de um arqueiro, são chamados de “Arcos Escola”. São com estes arcos que os estudantes começam seu treinamento, antes de comprar o arco definitivo. Este arco possui cerca de 28 Libras ou menos, por volta de 14 quilos. Estes arcos são utilizados, porque eles toleram mais os erros cometidos nos disparos iniciantes, não machucando tanto o arqueiro estudante. Arco considerados de competição podem possuir mais de 35 libras (cerca de 17 quilos), que para alguns já é considerado pesado. Arcos de caça, a recomendação é acima de 40 libras.

O Peso da Flecha

Quanto mais pesada é a flecha, maior será o impacto dela no alvo, o que influencia na perfuração e dano causado no alvo.

A Ponta da Flecha

Aqui está o verdadeiro dano do arco. De pouco adianta um arco poderoso e flechas de qualidade da NASA, se a ponta da flecha não for adequada. Para treino e competições, são usadas as pontas “Bullet” e “Field”. Para caça são usadas as pontas com cabeça larga, para aumentar o sangramento. Pontas com a ponteira mais fina, são para aumentar a perfuração em armaduras, em caso de combate.

O Power Stroke

Este elemento é fundamental para entender o alcance e potência de um arco. De uma forma simples, é o quanto longe este arco puxa a corda. Quanto mais um arqueiro consegue puxar a corda de um arco, a flecha será acelerada por mais tempo, o que vai aumentar incrivelmente seu poder de penetração e alcance. É por este motivo que os arqueiros dos exércitos da antiguidade eram sempre os mais altos. Quanto mais alto é o arqueiro, maior é a sua envergadura (distância entre a ponta dos dedos de um homem com os braços abertos para as laterais) e quanto maior a envergadura, maior será a sua puxada. Este aspecto faz a prática do tiro com arco ser privilegiada, pois os arqueiros com maior envergadura sempre terão esta “vantagem” ao seu favor.

A maioria dos arcos existentes no mercado possuem puxada para no máximo 28” polegadas.  Bestas podem ter puxada de até 20” polegadas (disponíveis no mercado). Um arqueiro de 1,80 metros de altura pode ter uma puxada superior a 30”, dependendo da sua envergadura. Este motivo faz com que o arco seja uma ferramenta muito pessoal e os arcos sejam feitos sob medida para o arqueiro.

O Paradoxo do Arqueiro

Parece ser algo complicado, mas na verdade é bem simples. Quando a flecha é disparada, a flecha se torce e contorce no ar. O nome deste fenômeno e a interferência dele no tiro, é o paradoxo do arqueiro. 

Quando se vê um vídeo em câmera lenta, a flecha parece um “peixinho” nadando em direção ao alvo. O quanto a flecha irá se torcer e contorcer no ar, é chamada de “taxa Spin”, um número que pode variar de 0 a 5. O número 0, significa que a flecha é totalmente rígida e não se contorce no ar. O número 5, a flecha se contorce demais. Ambos estes extremos resultam na perda de precisão, empurrando a flecha para longe do alvo. A taxa recomendada é uma medição que fica entre 2,5 e 3,5. Esta medição é feita em um equipamento específico para esta tarefa.

Todas as flechas em que o sobrevivente irá confeccionar, ele deverá levar este fator em consideração.

Já na Besta este fator é totalmente ignorado, pelo fato de a flecha estar em um trilho.

Vantagens e Desvantagens

O Arco e flecha é uma arma de natureza furtiva. A ausência de estampido permite certa liberdade para à caça de subsistência (Ver artigos da legislação relacionados à caça de subsistência). Um disparo de arma de fogo irá afugentar todos os animais em um raio de pelo menos um quilômetro, colocando-os em fuga. Já o arco evita esse fator. Também ele não entrega a sua posição, pelo menos não tão fácil quanto uma arma de fogo.

Outra coisa a se considerar é um tipo de dano do arco e flecha. Este dano é o sangramento. Quando uma flecha penetra um animal, ele não irá cair imediatamente. O animal irá correr alguns metros e depois de uma considerável perda de sangue, ele irá cair e desmaiar. É muito raro um animal tombar inconsciente imediatamente após um disparo de arco e flecha. O arqueiro deverá ter esse fator em mente, caso ele decida caçar um animal agressivo como o java porco, já que existe a possibilidade de o animal se voltar contra o arqueiro após o disparo. Por esse motivo é que os arqueiros caçadores escolhem subir em uma árvore e aguardar a caça. 

Por outro lado, as varetas (hastes) para a confecção para flechas pode ser mais difícil de serem encontradas na natureza, exigindo certa habilidade do arqueiro para endireitar as flechas. 

A prática do tiro com arco exige muito treinamento e dedicação. Já se dizia na China antiga: “Para se treinar um bom arqueiro, é preciso três anos. Para se treinar um besteiro (Operador de besta) é preciso três dias”. O tempo que um arqueiro irá investir para o domínio da ferramenta é muito maior comparado a outros tipos de armas de sobrevivência.

Para que haja um bom disparo, é necessário que o arqueiro esteja em ótimas condições físicas de saúde. Isso porque o arqueiro utiliza todo o seu corpo para efetuar um bom disparo. Se o arqueiro tiver um ferimento no braço ou na perna, irá prejudicar totalmente o seu desempenho, inutilizando o uso do arco. Se não bastasse isso, o arqueiro precisa de espaço para operar o arco, tornando seu uso difícil e complicado em espaços muito apertados.

Vantagens do Arco e flecha:

• Arma de simples confecção e manutenção;
• Admite ataque incendiário à distância;
• Dano de Sangramento à distância;
• Silenciosa;
• Simples confecção de munição;

Desvantagens do Arco e flecha:

• Requer muita habilidade;
• Requer muito tempo de treinamento e dedicação;
• Hastes longas para a flechas podem ser mais difíceis de se encontrar na natureza;
• O Alvo não cai no primeiro acerto;
• O arqueiro precisa estar totalmente saudável para operar;
• Preciso de espaço para operar.

Para facilitar a explicação das vantagens e desvantagens, vamos comparar o arco recurvo e o composto. Lembrando que na categoria recurvo estão incluídas as versões, tradicional, recurvo mongol, recurvo huno, arco primitivo.

Arco Recurvo: Vantagens e Desvantagens

O Arco Recurvo oferece a vantagem de ser mais barato que o composto, possui facilidade na manutenção. Este arco aceita reparos de emergência, algo que o composto não admite. Porém este tipo de arco requer que o arqueiro fique grande parte do tempo “encordoando e desencordoando”, o que pode ser uma chatice para muitos. Caso contrário, o arco poderá perder a potência. Ninguém sabe ao certo quanto tempo um arco pode ficar encordoado (montado) sem perder a sua potência. Mas por garantia, os arqueiros que optam por essa categoria deixam seus arcos desmontados pela maior parte do tempo. Apenas montam quando irão utilizá-lo.

Este tipo de arco tem grande aceitação para as flechas caseiras. Porém a puxada dele tende a ser mais rígida, levando o esgotamento antes após diversos disparos.

Vantagens:

• Aceita flechas caseiras com facilidade;
• Aceita reparos de emergência;
• Barato;
• Manutenção simples;
• Montagem simples.

Desvantagens:

• Exige maior resistência do arqueiro;
• Montagem e desmontagem constante.

Arco Composto: Vantagens e Desvantagens

O Arco Composto não precisa ser montado e desmontado o tempo todo. Porém para montá-lo é necessário utilizar uma ferramenta de bancada especial. Este arco pede muito menos força do arqueiro para ser operado, já que as roldanas aliviam parte do peso. Porém este sistema exige manutenção constante, pois as peças estão sob grande tensão e o atrito é constante. 

Este tipo de arco possui grande força e impacto. Lembram quando mencionei sobre a dinâmica invertida da puxada do arco composto? Pois bem! Em um arco recurvo, no instante que o arqueiro libera a corda para o disparo, a aceleração é grande e quando a flecha está saindo do arco, a tensão vai ficando menor. No arco composto é o contrário: Quando a corda está próxima ao queixo do arqueiro, a puxada se torna leve, e quando a flecha está saindo do arco, é onde a corda exerce o pico de sua tensão. No último instante do disparo, o impulso é maior que no arco recurvo. O resultado, é uma flecha com uma aceleração muito maior. 

Em contrapartida, este tipo de arco possui grande dificuldade em aceitar flechas improvisadas. A quantidade de acidentes envolvendo disparos de flechas caseiras é enorme. Por a flecha caseira não ter a estrutura de uma flecha feita de fibra sintética, algumas flechas costumam se quebrar no momento do disparo, causando um dano imenso ao arqueiro. Isso acontece, porque a flecha improvisada é flexível demais, fazendo-a torcer em excesso no instante do disparo, causando a quebra da flecha.   Flechas caseiras para este tipo de arco não são nada recomendadas. O sobrevivente poderá confeccioná-las, mas estará sob sua conta em risco. O mesmo princípio não se aplica a bestas compostas, pois o paradoxo do arqueiro não se aplica a elas.

Vantagens:

• Alta precisão;
• Disparo potente;
• Não precisa montar e desmontar constantemente;
• Poupa o físico do arqueiro;
• Puxada mais leve.

Desvantagens:

• Alta rejeição para flechas improvisadas;
• Caro;
• Exige constante manutenção;
• Não admite reparos de emergência.

Para a manutenção dos arcos, é utilizado um tipo de cera na corda, para diminuir o atrito com outras partes. O recomendado é o arqueiro encerar a corda toda a vez em que for utilizá-lo.

Qual é o melhor tipo de arco afinal?

A Resposta é muito simples. Não existe arco melhor que o outro. Cada tipo de arco apresenta características exclusivas, em que o sobrevivente terá que escolher qual delas se encaixa melhor na realidade em que se encontra. Sobreviventes que têm uma mentalidade de simplicidade e estar preparado para diversos tipos de situações e possuir uma possibilidade grande de improvisação, irão optar pelo arco recurvo. Porém os sobreviventes que optam por potência, precisão e praticidade – o fato de não precisar montar e desmontar o arco toda a vez que irão utilizar, certamente irão escolher o arco composto.

Por S.W.Zini